Sem virtude não há liberdade. E enquanto uma pessoa não aprender a domar suas paixões, não será virtuosa, tampouco livre para narrar sua biografia ao longo de sua vida. A vocação do ser humano é a liberdade. Porém, toda pessoa escrava de suas paixões não é livre. E toda vez que uma pessoa trai a sua vocação, deixa se ser livre e passa a viver aprisionada como um animal escravo da lei: “dá prazer é bom, dói é ruim”.
O preço dessa traição é uma fonte inesgotável de neuroses, vícios, problemas, frustrações e uma vida completamente esvaziada de sentido. Ainda que você tenha traído a sua vocação, você continua sendo um ser humano. E o que te separa da possibilidade de edificar uma vida plena é apenas uma decisão.
A decisão que você deve tomar se você quer empreender uma jornada para ser verdadeiramente livre, cumprir a sua vocação e edificar uma vida com sentido existe. Existe um caminho para você edificar virtudes e domar as suas paixões na jornada da liberdade e eu vou te mostrar como neste artigo.
UMA VERDADE TRANSCENDENTAL
Desde o momento em que nascemos, há uma verdade fundamental que transcende todas as culturas e épocas na nossa jornada única e irrepetível de desafios e experiências: a vocação do ser humano é a liberdade para ser o autor da própria vida.
Mas o que é a verdadeira liberdade? É muito mais do que a ausência de restrições externas, mas uma busca interior por autonomia, autenticidade e expressão plena de quem somos. A qual nasce de uma vontade profunda de transcender nossas próprias limitações, sejam elas físicas, emocionais ou mentais, e viver de acordo com nossos valores mais profundos. Por fim, a verdadeira liberdade é a capacidade de domar as paixões, edificar virtudes e governar nossas próprias vidas de acordo com princípios sólidos, virtudes e valores que somente são capazes porque nos foi dada a graça da consciência. E é aqui que muitas pessoas se enrolam. Explico.
A JORNADA DA LIBERDADE
Ao longo dessa jornada em busca da liberdade para edificar virtudes e domar as paixões, encontramos desafios significativos. Nossas próprias paixões, medos e inseguranças podem se tornar obstáculos para essa busca. No entanto, é precisamente ao enfrentar esses desafios que começamos a compreender melhor a natureza da liberdade.
Em algum momento da vida, talvez você já experimentou a sensação de ser escrava de suas próprias paixões, impulsos, vícios e emoções. Aqueles desejos ardentes que te consomem e te guiam como se você fosse um animalzinho adestrado, desprovido de intelecto, sendo arrastado para um ciclo interminável e doentio de prazer e dor. Seguindo esse caminho você se torna escrava das emoções e prazeres momentâneos, incapaz de resistir às suas chamadas sedutoras, correndo risco, inclusive, de desenvolver os mais diversos hábitos, vícios e compulsões. Como, por exemplo, por compras, acumulação, sexo, pornografia, alimentares, álcool, drogas, jogos de azar, medicamentos, tricotilomania (arrancar fios de cabelo), entre outros.
No entanto, quando você se entrega completamente a essas paixões, a liberdade genuína se esvai e você se torna prisioneira da lei implacável do prazer e da dor. Segundo essa lei o que te dá prazer é considerado bom, enquanto o que te causa dor é rotulado como ruim. Essa dinâmica doentia te afasta da realidade e te aprisiona cada dia mais em um ciclo de busca incessante pelo próximo estímulo de prazer e pela fuga da dor iminente.
Agora imagine que tipo de relacionamento, por exemplo, uma pessoa escrava dessa lei irá atrair? Evidentemente não será um relacionamento saudável, estável e maduro.
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Pense em alguém que amou você? Eu não sei quem é essa pessoa, mas eu tenho certeza que ela não esteve ao seu lado somente nos momentos de prazer. Pelo contrário, é alguém que pagou o preço, abraçou uma dor com/por você e esteve ao seu lado em todos os momentos, na alegria e na doença, nos momentos felizes e nos mais difíceis também. Percebe que quando pensa em alguém que amou você, não pensa em alguém que necessariamente te deu prazer? Afinal, uma pessoa que te deu prazer pode só ter usado você.
Portanto, a verdadeira liberdade não reside na servidão a essas paixões. Pelo contrário, a verdadeira liberdade reside em nosso domínio sobre as paixões para assim, navegar pelas águas turbulentas de nossas emoções com inteligência, sem sermos arrastadas por elas. Não se trata de negar as paixões, mas de direcionar sua energia de maneira construtiva.
A liberdade verdadeira começa quando escolhemos conscientemente o caminho da virtude e do que é o certo a se fazer em cada situação sobre a gratificação instantânea. Ela floresce quando tomamos decisões baseadas em valores e princípios, mesmo que isso signifique resistir à tentação momentânea. E esse é um processo contínuo de autoaperfeiçoamento e autodescoberta.
Portanto, lembre-se: a pessoa escrava das suas paixões não é livre, e ao seguir cegamente a lei do prazer e da dor, perdemos a oportunidade de viver uma vida autêntica. A verdadeira liberdade está em nossas mãos, esperando ser cultivada por meio do autocontrole, da sabedoria e da escolha consciente. É uma jornada desafiadora, mas a recompensa é a plena realização da nossa vocação através da obra da nossa vida.
O AUTOCONHECIMENTO É A CHAVE PARA EDIFICAR AS VIRTUDES E DOMAR AS PAIXÕES
O autoconhecimento é a chave. Quando aprendemos a conhecer a nós mesmos, nossos desejos, motivações e crenças, ganhamos o poder de fazer escolhas conscientes e escrever um novo roteiro para nossas vidas. Em vez de sermos escravos de nossas paixões e impulsos, tornamo-nos mestres de nosso destino.
“Saber é próprio do homem segundo a virtude intelectual, cujo ato consiste no conhecimento. Portanto, a retidão da ação do homem é apropriada ao homem enquanto domina suas paixões.”
Esta citação de São Tomás de Aquino destaca a importância do domínio das paixões como um aspecto essencial da retidão da ação humana. Para ele, a verdadeira virtude reside na capacidade de controlar e direcionar as paixões, permitindo que a razão guie as escolhas e ações. Isso reflete a ideia de que o equilíbrio entre a razão e as paixões é fundamental para uma vida moralmente justa.
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